Este é o primeiro capítulo do livro que estou escrevendo.
Quem puder opinar, seja criticando ou elogiando, eu agradeço!
Sinto o peso das palavras a cada vez que as escrevo
aqui.
É como se os mortos estivessem ansiosos por elas e as
vidas perdidas no passado estivessem à espreita, aguardando uma oportunidade de
reviverem tudo novamente. De se sentirem vivas, uma vez mais. Através destas
palavras, creio eu, estas pessoas se tornarão imortais.
Nada me dói mais do que reviver aqueles dias. Reviver
as batalhas, as intrigas, os jogos de poder e acima de tudo, a Grande Noite.
Porém, jamais me perdoaria se o mundo não soubesse o que aconteceu lá e tudo se
perdesse com o tempo. Houveram sim, coisas ruins, mas muitas coisas boas
aconteceram. Boas pessoas viveram e morreram.
O bem sempre vence o mal.
Era o que meu pai sempre dizia. E eu o amaldiçoo sete
vezes, por me contar tais mentiras. E amaldiçoo mais ainda, pais que iludem
seus filhos com estas tolas estórias. Esta estória que aqui descrevo agora, não
é como as outras. Toda estória tem um começo e um fim. O que vem no meio é o
ápice de tudo, levando à todos a um fabuloso final. Mas esta... Esta é uma
estória às avessas. Ela teve um fim trágico e uma longa, longa jornada em busca
de um começo. Porém, para entende-la da maneira correta, é necessário voltarmos
muito no tempo. Até a época em que tudo seria criado.
No início não existia nada, somente o Vazio e no Vazio
vivia Allaff, o Criador. Não existia palavra para Céu ou Terra, Mar ou
Firmamento. Lá, só existia o Silêncio. Durante séculos incontáveis ele vagou
pelo Vazio em busca de inspiração e nunca a encontrou. Porém, em uma das
incontáveis vezes em que ele meditou procurando algo em sua mente, ele
encontrou o que procurava. O sonho veio como se tivesse sido sussurrado em seus
ouvidos e sua mente deu ao sussurro forma. Em seu sonho era tudo tão lindo. Ao
acordar, estava decidido que iria dar aquele sonho a chance de se tornar real e
assim, o Verbo fora entoado pela
primeira vez. A voz do criador entoou o Verbo e ele se tornou tudo o que
poderia ser. Sonho e Idéia. Esperança e Medo. Do Verbo, um pequeno Globo surgiu
em meio ao Vazio e o Criador deu à ele o nome de Varda.
Conforme o Verbo era entoado, eras e eras iam dançando
em frente à Allaff, tamanha era a perfeição de seu mundo. Porém, ele não
imaginava o quanto o Verbo era poderoso e traiçoeiro e este foi seu maior erro.
O Livro de Ebenezer conta que Allaff não sabia ao certo o que fazia quando
entoou o Verbo pela primeira vez. Espíritos antigos que vagavam invisíveis pelo
Vazio, ao ouvirem o Verbo foram tentados por ele e assim foram criados os
primogênitos. Os filhos de Allaff, todos Elcariuns como ele, Deuses com o Dom
da Criação. Um a um, foram surgindo e suas vozes se unindo à do Pai entoando o
Verbo. Allaff estava surpreso com aqueles seres que haviam surgido e só então
percebeu que ele havia dado fim à aquilo que ele mais detestava em sua
existência. A Solidão. Ele nomeou um por um dos filhos que havia criado. O
primeiro e mais poderoso dos Elcariuns foi Nagrók, logo em seguida surgiu
Zulan, Heliel, Lelian e Jakopo, respectivamente. A voz do Pai se elevou no
Firmamento e ele disse:
A
minha forma e semelhança vos criei e lhes concedo autoridade sobre tudo o que
existe... Que por meio de Sua vontade, se cristalizem todas as coisas.
Lelian ergueu sua voz e entoou o Verbo e um imenso
Palácio Dourado e Prata surgiu no Firmamento e seu brilho iluminou Varda e
revelou que ainda estava inacabada.
Zulan criou grama em volta do Palácio e
Heliel e Jakopo criaram árvores e lagos e tudo ali seguia um padrão, tudo ali
era perfeito. Um dos filhos porém, olhava cobiçoso para o pequeno mundo abaixo
deles e sua voz entoou o Verbo para moldá-lo e naquele momento, Varda ficou
sujeita à sua Vontade. E a vontade de Nagrók era insana. Ao comando de sua voz,
as montanhas se ergueram do chão e foram subindo mais e mais, algumas realmente
tocavam o céu e aquilo deixou o Pai maravilhado e sua atenção se voltou ao
Primeiro Filho. Da Pedra nas Montanhas, Nagrók criou os anões, criaturas de
tamanho mediano e brutos. Eram grandes trabalhadores e acima de tudo amavam a
pedra, ao qual chamavam de Deusa. Sem que ninguém percebesse, Nagrók implantou
nos anões um sentimento, cobiça sobre todas as coisas Valiosas. E assim, nasceu
o Primeiro Pecado no Mundo.
Os bosques foram criados em seguida e das árvores
criou-se os Elfos, altivos e soberbos e
extremamente poderosos. Amavam o Poder acima de tudo e fariam qualquer coisa
para protegê-lo ou se tornarem mais fortes. E assim, fora criado a Inveja e o
Ódio, pois um sempre vem acompanhado do outro, e mais Pecados vieram ao mundo.
Nas florestas, vários animais foram criados, para que servissem de alimento
para aqueles que acabavam de ganhar vida. Tudo seguia seu padrão e aos poucos,
os Elcariuns iam se unindo ao irmão mais velho e foram criando coisas no mundo
que o Pai há pouco havia criado. Um a um foram pincelando suas idéias, mas
sempre que um deles erguia a voz, Nagrók erguia a sua mais alto e deturpava
aquilo que os irmãos criavam ou simplesmente destruía. O pai, maravilhado com
tudo o que via não prestou atenção no que os Filhos faziam e assim, a primeira
Guerra fora travada. A Guerra da Criação, como foi chamada. Nagrók vencera os
irmãos e o Verbo o influenciava à cada vitória. Em Varda, os recém criados, Elfos,
Anões e Animais, assistiam àquele espetáculo que se desenrolava diante deles.
Uma tempestade se formou e um raio caiu sobre uma árvore, incendiando-a. O fogo
fez com que os Elfos se assustassem e fugissem da Floresta, com medo de
queimarem. Aquele Poder era forte demais e eles não ousavam desafiá-lo. Névoa
subiu das planícies e cobriu tudo, se misturando com a fumaça. A escuridão era
absoluta, exceto pelas áreas que pegavam fogo. O mundo que era tão belo estava
se destruindo pela briga entre os Elcariuns. Fogo, Névoa e Sombra. Era nisso
que o Mundo havia se tornado. E desses três elementos, Nagrók criou seu servo
mais poderoso. Os Elcariuns se assustaram ao verem que ele se elevava mais e
mais e seus olhos em chamas os encaravam. Naquele momento, nascia Vulgort.
Somente neste momento Allaff percebeu o que estava sendo feito de seu mundo e
interferiu naquilo que os filhos faziam.
Dei
a vós livre arbítrio para criarem o que bem desejassem, porém o que vi foi
somente Destruição e Morte.
Vulgort desapareceu naquele instante e nunca mais foi
visto, desde então. Nagrók olhou para suas mãos e as apontou para o Pai.
Tu
me destes o Poder da Criação, Pai. Tu me criastes e colocaste em minha mente
tudo aquilo que criei. Porque me acusas agora?
Allaff não respondeu. Ele não sabia exatamente do que o
Filho o acusava e preferiu não responder de imediato á sua pergunta. Seria ele
mesmo o culpado por aquela destruição?
Tu
te calas e não me responde. Não sabes a resposta? Temos como saber exatamente o
que criamos ao entoarmos o Verbo, PAI. E se tu não sabes disso, então não
mereces ser o Primeiro entre os Elcariuns.
Os olhos de Allaff brilharam e sua voz soou como trovão
e todos em Varda puderam ouvi-lo, mesmo que tapassem os ouvidos.
Tu
não és digno de ficar em minha morada. Semeaste ódio e guerras em tudo aquilo
que criei e em pouco tempo, tu destruíste grande parte do Plano que tinha para
este lugar. Porém, nem tudo está perdido.
Nagrók não entendia o que o Pai dizia e o ódio que
havia acabado de criar no Mundo tomava conta dele secretamente e pouco a pouco
ia roendo as amarras da razão, dando lugar à loucura. O Pai estendeu sua
Vontade para uma criatura que jazia morta no chão e dela retirou dois pedaços
de carne e deu á elas vida. Ali, naquele momento, eram criados os humanos. A
raça mais jovem de todas. Embora o Verbo tenha sido entoado por cinco horas
somente, em Varda passaram-se quinhentos anos. A maior Guerra pela qual Varda
havia passado era a Guerra da Criação e vários Elfos e Anões deixaram seus registros
sobre ela.
Estes,
são meus novos filhos e neles coloquei o Fogo Inextinguível. Por mais que o Mal
que tu semeaste no Mundo seja forte, a chama dentro deles jamais se apagará e
eles lutarão e o impedirão de cumprir com sua maldade. Estes são MEUS filhos e
com eles eu deixo a minha graça.
O ódio de Nagrók explodiu
em fúria e fogo e o céu ficou vermelho quando ele gritou. Em Varda, seus
servos, ou aqueles que haviam sido tocados pelo mal, caçaram os recém criados
de Allaff, porém eles haviam desaparecido. O Pai os havia escondido até que
tivessem número suficiente para reivindicar um lugar no mundo.
Tu
não sabes o que faz. Pensas que pode comigo, mas eu sou o Primeiro dos
Elcariuns. Eu sou DEUS e nenhum de vocês pode me destruir ou destruir aquilo
que criei naquele Mundo. Aquele lugar me pertence e nenhum de vocês vai tocar
nele novamente.
Os primogênitos foram atacados pelo fogo de Nagrók e o
Pai os protegeu dirigindo seu olhar ao Filho.
Tu
me tomas como ignorante, Filho. Mas sois tu que não sabes o que faz. Tua
Vontade se instalou em minha criação, porém eu irei erradicá-la de lá nem que
isso demore Milênios. Pois eu sou Allaff e aquilo que foi criado sobre a minha
vontade estará eternamente sujeita a mim. O mal que tu criastes se espalhará
pelo mundo, matando, corrompendo, torturando, porém deixo aqui um aviso para
aqueles que seguirem as palavras da Serpente que tenho como filho. A danação
eterna é o que os aguarda e agora, lhes mostrarei meus novos Filhos.
Um raio caiu na terra e a rasgou ao meio e dentro dela
puderam ver o fogo. Das rochas em volta dele, Allaff criou criaturas disformes
com chicotes e espadas em chamas.
Todo
aquele que esquecer minhas palavras e se sujeitar ao Mal que corrompe o mundo,
terá estas criaturas como recepcionistas em sua eternidade de danação. E a ti, meu filho, está reservado o pior dos
destinos. Tu viverás naquele mundo que corrompeu, ele é teu como disse e nele
passará a eternidade. Tiro de ti agora, o dom que lhe dei e deixo a ti somente
a imortalidade como presente e castigo. Assistirá as eras se desenrolando
diante de ti e verá seu mundo se corromper ao longo dos anos. Porém, lembre-se.
Tudo teve início em mim e a mim tudo
voltará. Aqueles que forem bons em vida, virão à mim e viverão comigo, até que
o próprio Tempo não exista mais, até que reste somente você em um mundo
devastado pela sua Vontade. Eles viverão e morrerão, porém tu, jamais terá o
Descanso Eterno. Jamais voltará para casa.
Nagrók estava com ódio e
isso era evidente pelo seu olhar insano.
Tu não podes me banir daqui... PAI. EU
SOU O MAIS PODEROSO. O MUNDO RESPONDE SOMENTE A MIM.
Imensas
asas surgiram nas costas de Nagrók e ele foi para cima do Pai. A cada investida
e soco, um raio riscava o céu e os Elcariuns se tornavam visíveis. Allaff
somente bloqueava os golpes do filho e nenhum dos irmão se atreveu a entrar
naquela briga. Um raio riscou o céu e parou nas mãos de Nagrók e ele o usou
para cortar fora o braço do Pai. O sangue era dourado e escorria pelo jardim
recém criado.
Banido serás, meu filho. E jamais
voltará para casa.
Antes que Nagrók pudesse dizer algo, Allaff subiu em
suas costas e o arremessou em meio à terra. O foço que havia acabado de criar
estava fechado e Nagrók estava agora, sem poderes. Porém, ele ainda era forte e
malicioso o suficiente para sobreviver em Varda. E ele sorria, olhando para os
céus desafiador, sabendo que sua Vontade havia se cumprido. Ali, ele jurou
vingança aos Elcariuns. Um dia eles seriam seus escravos e ele os torturaria
por toda a eternidade. A voz de Allaff
se elevou uma última vez e depois, se calou para todo o sempre.
Não
mais interferiremos no Destino do Mundo, pois do Verbo só trouxemos desgraças.
Os meus filhos de carne logo estarão fortes e eles guiarão o mundo para sua
Salvação ou Destruição. Até lá, assistiremos impassíveis o que tiver que
acontecer e esperaremos de braços abertos todos aqueles que por sua bondade em
vida, conseguirem achar o caminho até meus Portões.
Haverá
um tempo, onde aqueles que desafiam os Elcariuns, conhecerão a Cólera dos Céus.
Campos e bosques arderão.
Os
mares se abrirão e lavarão os impuros, engolindo-os para sempre.
O
vento separará as nações de Varda.
E
o raio do Pai rasgará os céus.
Muitos
clamarão seu falso Deus e nada obterão além de silêncio.
Neste
dia, o fim estará próximo.
E assim foi feito. Os Elcariuns nunca mais interferiram
em Varda, ou não diretamente. Enquanto isso, Nagrók se tornava mais e mais
forte e era conhecido como Deus. Temido por uns
e amado por muitos. Porém, seu reinado teve fim quando os humanos se
revelaram do esconderijo que Allaff havia lhes dado e Alacaster Thúrunnen,
aprisionou aquele que não podia ser morto e com a ajuda dos Seis Conselheiros
representantes dos Elcariuns em Varda, selaram para sempre o Poder da Serpente.
Alacaster se tornou Rei e sua família ficou destinada a proteger Varda para
sempre. Porém, Nagrók havia jurado que destruiria os Elcariuns e tomaria o
mundo novamente para si. A roda das eras girava e girava e ele aguardava até o
momento certo em sua prisão. O momento de libertar Vulgort do anonimato e
mostrar para todos seu maior servo, o medo encarnado. Os Elcariuns seriam seus
escravos e os humanos sofreriam.
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